sábado, 23 de janeiro de 2010

Alta Fidelidade ou A Fórmula do Amor

Eu lembro que o cenário da aparição foi o anfiteatro do 11º andar do prédio da reitoria da UFPR.
Eu tava na primeira aula de Psicolingüística (aliás, ô matéria falcatrua hen!) e percebi que algumas fileiras a minha frente estava sentada uma menina que eu nunca tinha visto antes. Era diferente dos outros alunos do curso de Letras e me chamou a atenção o cabelo ruivo e um coturno velho que ela usava.
De repente ela tirou do bolso da jaqueta um livro pocket, era o Alta Fidelidade do Nick Hornby. Gostei logo de cara e hoje sei que é mesmo verdade que a gente não faz amigos, reconhece-os, como diz a bíblia (hahahahah!).
No mesmo final de semana fui com uma amiga no show do Denorex no antigo Cine e eis que surge a ruiva de coturno e mini saia, era amiga da minha amiga da faculdade e naquela noite nos conhecemos de verdade e, dispensando apresentações formais, dançamos loucamente ao som dos melhores hits dos anos 80: Mama Maria, Serão Extra, Beat Acelerado, Alice Não me Escreva Aquela Carta de Amor, Eu sou Free Demais e terminamos a noite passando no mercado 24 horas pra comprar mais cerveja (a necessidade de querer sempre mais existiu desde o primeiro encontro, veja!).
Rolou uma coisa di péili e naquele semestre as aulas de Psicolingüística não foram tão insuportáveis.
Alguns anos depois já estávamos formados (o letrado e a jornalista), trabalhando feito loucos e nos encontrando quase que sagradamente todo final de semana pra conversar e conversar e conversar no bar até nossas personas cariocas Neuza e Alixandri surgirem e dançarmos ridículos na pista, fazermos amigos e influenciarmos
pessoas na fila do banheiro, no posto de gasolina e no estacionamento do mercado 24 horas e fazer nossos flertes irem sempre por água abaixo.
Sempre a mesma coisa: conversa, conversa, conversa, cerveja, cerveja, cerveja, dança ridícula, dança ridícula, dança ridícula, frango assado no mercado às 5 da manhã, frango assado no mercado às 5 da manhã, frango assado no mercado às 5 da manhã e ela me levava pra casa no seu fusca 66 bicolor que sempre chamou a atenção, seja beleza (porque ele é de fato o carro mais lindo do mundo verde com branco e com o estofado em couro creme), seja pelas vezes que precisou de empurrão em plena madrugada.
Nossa forma de se comportar na balada é inigualável: conversamos sobre crase, sobre a construção da percepção do tempo, fazemos listas de livros que seríamos na cidade das pessoas livro do Fahrenheit 451 e justificamos o porquê, ela dança com um rabo de cavalo em cima da testa e fazendo a dança de subir primeiro a bunda e depois o resto do corpo, imitando uma dançarina do programa do Gugu que dança dentro das taças e eu, que aprendi com ela, faço sempre uma apresentaçãozinha de vitrine viva e no fim da noite nós nos perguntamos: por que é que todos se casam menos a gente?
Mas no fundo a gente (faz de conta que) nem se importa tanto assim porque, afinal de contas, nós já descobrimos que se nossa vida fosse um filme seria um desses cults adolescentes à la Curtindo a Vida Adoidado e agradaríamos gerações e gerações de pessoas de bom gosto contando a história de duas pessoas que se conheceram em circustâncias nada a ver e mantêm uma amizade cravada na crença em comum na fórmula do amor - porque ter um bom papo e até saber dançar tem que servir pra alguma coisa, não é?

Proponho o seguinte trato agora que minha companheira de blog estará fisicamente separada: quem descobrir primeiro a fórmula ensina ao outro, ok?

Já desejei, mas repito: todas as Guinnes e irlandeses rudes pra você, Inü!
E encerro esse post-declaração-de-amor com o nosso hit no repeat!

http://www.youtube.com/watch?v=Ne87egU4w9I&feature=related